quarta-feira, 11 de agosto de 2010

rojo (iv)

das saudades mais profanas
tinha a lembrança
do lascivo beijo
o beijo inaugural

e daquela tarde primeira
ficaram, ainda hoje
os músculos retesados
a dívida eterna
do amor inicial

(que trilhas!
que membros!
que enlaces!)
a desferir na face
o cálculo exato
de todo tempo perdido.

então era tarde demais para abrir os caminhos?
não seria possível, talvez, alcançar os demais?

a essa altura não importava mais o tempo: nem o do porvir, nem o percorrido. estava na sua trama cronológica e o peso da demora não era o mesmo de outras estações. pesava-lhe, antes, a convicção de que tudo que absorvera não lhe trazia o alívio suficiente. insuficiência perceptível na própria ausência da voz. de alguma forma, ela foi embora com aquele beijo. e no momento exato em que deu-se conta da vida, morreu.

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