quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

não sabia que havia tanto sangue aqui dentro, não é?

sabe que dói porque é dor física mesmo. sente às costas aquele peso de sempre, impiedoso. não temia toda essa novidade que julgara tão antiga. aliás, nem acreditava que ela viria. eram outros os fantasmas que lhe afligiam o sono. e agora, cá estão esses inéditos fantasmas te fazendo debater-se contra si mesmo. era pra deixar sangrar até a última gota e esperar por novos doadores, mas não sabia que havia tanto sangue aqui dentro, não é? não. não sabia...

e não dá pra entender como o motivo alegado ontem tornou-se, hoje, uma nova canção do lado de lá. se era vôo o clamor do pássaro, por que se atirar à primeira gaiola? e o cadáver ainda nem esfriou! mas quanto deve durar o luto mesmo? pode tudo ser culpa daquela inconseqüência característica. mas nem essa desculpa, infantil, aplaca o que se passa cá dentro. porque supunha-se respeito àquela história, breve história. supunha-se uma nesga de verdade ali. e essa velocidade toda - e há, por acaso, fração exata de tempo? - te faz duvidar do que se passava quando havia algo? e, de fato, havia? porque hoje, ao cruzar contigo na rua, é capaz de fingir desconhecimento. e mais: você corre sempre o risco acenar ao vazio...

e aí você também toma conhecimento de que não era de corpo todo presente que se estava ali. porque a cabeça; ela também faz parte do corpo. talvez fosse muito mais a projeção de algo que poderia ser; de algo que, talvez, perdeu-se pelo caminho na trajetória de lá. e aí criou-se um pequeno ser à imagem e semelhança sabe-se lá do quê! e talvez não fosse, enfim, amor o que se passava ali. ou se era - parem as prensas! - foi o amor mais rápido registrado na história.

sei que me repito [e não é tudo uma grande repetição? o eterno retorno nietzscheano?], mas por respeito mínimo, merecíamos outra coisa além da indiferença. e não valem subterfúgios, alegações e fugas equívocas. é preciso olhar nos olhos e assumir as próprias contradições. e, se for o caso, assumir que a contradição nada mais é do que um sintoma tardio da falsidade anterior. seja ela intencional ou não. porque eu estou aqui e a dor que temo não é a do fim, mas dessa maldita dúvida: afinal de contas, foi "tudo ilusão passageira que brisa primeira levou?". eu dou conta de ver o navio tomar outra direção. e sou capaz de acenar, de coração aberto, à beirada do porto gritando: 'vá em paz'. resta saber o que acontece por lá. sim, eu estou aqui e do lado de lá, sabem muito bem onde me encontrar; embora eu mesmo não faça muita idéia de por onde deva começar a me achar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quando a 381 volta a fazer parte de sua rotina, gostaria de recomendar o Clube do Filme, de David Gilmour, para lhe fazer companhia em uma viagem ou duas. Respeito muito um cara que encontrou a grande verdade da vida dentro de um vagão de metrô...

Forza Sempre