teve uma época, no extinto fotolog, que eu contava como criei algumas das minhas músicas. já não lembro quais apareceram por lá, mas resolvi relembrar algumas histórias. a idéia primeira era aproveitar para gravar todas as músicas novamente. farei isso com aquelas que mudaram muito, ou que não tenho mais comigo. e assim nasce mais uma série - requentada - nesse blog: "de onde vem essa canção?"
canção do dia: quarta-feira de cinzas
o título da canção engana. não, ela não foi escrita num dia como hoje: quarta-feira de cinzas. pelo contrário, foi escrita, se bem me lembro, em novembro, bem longe, portanto, do carnaval. se a data exata me falha à memória, lembro-me que chovia muito à época, como tem chovido nesse carnaval.
o samba torto é referência óbvia ao anjo torto drummondiano e 'sambar na contramão' é uma imagem que eu gosto bastante. há uma controvérsia eterna quanto à letra. na terceira estrofe, às vezes canto 'larguei o tamborim'. outras canto 'peguei um tamborim'. a segunda opção é mais coerente com os versos antecedentes e consequentes. o som da palavra 'larguei', todavia, me agrada mais. por isso, a indecisão.
a segunda metade da letra é de algum poema que ficou pelo caminho e eu acabei aproveitando, se não os versos originais, a ideia presente neles. há, aí, uma metaforazinha bem mequetrefe que eu gostava há alguns anos; hoje sinto até um pouco de vergonha.
a canção deve ser lá de 2004 quando ouvia tudo que pudesse da bossa nova e isso fica evidente na audição. claro, é uma bossa completamente dura, até meio monótona, que não nasceu - como sempre - no melhor tom pra minha voz. gravei a música ainda agorinha e briguei com a memória para me lembrar dos acordes. é que faz tanto tempo... e como hoje é a inevitável quarta-feira de cinzas, vamos lá com essa canção.
clique abaixo para ouvir
quarta-feira de cinzas
desço a rua ao léu
buscando um botequim
pr'eu descansar e me afogar
em flor
ouço só um som n'algum lugar
resolvo ir lá, ver o que foi
passou
depois do carnaval foi que eu saí
sambando torto bem na contramão
peguei um tamborim
que as cinzas nos meus pés
já são pó
voltando para casa eu quis fingir
que a festa inda não findou
mas sei que assim não dá
a quarta já está lá
cabou
e ao chegar eu vi
caminhos em meus braços,
estradas vermelhas,
que eu quis cantar.
desviei, perdi
distei do seu lugar
mas hei de achar a direção
e enveredar, eu vou.
e caso me engane outra vez
atalhos abrirei pra encurtar a pauta
que me coração precisa nesse samba aqui
executar
e então no novembro que vem
serei apenas um jardim
ao lado de alguém
que assim como eu, depois do carnaval, dormiu.
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