a dor dela sempre teve um quê de quiromancia, de cartomancia, uma dominação incrível das artes ocultas. sabia disso pela antecedência com que se manifestava; como se o futuro já tivesse se revelado horas - às vezes, dias, semanas! - antes. mas como a manifestação da dor era, de fato, a premonição de algo que ainda não acontecera, ela não podia fazer muito. de nada adiantava a previsão, se o que lhe alertava era uma dor semelhante à dor que sentiria depois do ocorrido.
não havia dom algum ali. essa primeira dor - a dor anterior - era uma maldição. porque ela avisava a dor seguinte, sem, contudo, ser capaz de evitá-la. e isso era fatal; duplamente fatal.
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