domingo, 14 de abril de 2013

a asa solitária




no dorso de suas asas
reconheci meu prórpio vôo
coincidência da minha chegada
sua partida deixou-me mais perto
de mim mesmo

porque pra ver melhor o horizonte
o vazio é essencial
assim como o abismo assusta mais
quando a um palmo
e resistir à queda
já é um pouco
precipitar-se

coincidência de minha chegada
sua partida me renova

porque é no eco da própria voz
que se exaspera a solidão
e negar-se à batalha
dá a medida da coragem

no dorso de suas asas
calculei meu próprio vôo
coincidência de minha partida,
sua chegada me fez outro

porque o segredo
não é o que se esconde sob o véu,
mas o próprio desvelar-se
e saber de si
é a ignorância mais necessária

na face das minhas asas
projetei meu próprio vôo
para que quando se fecharem,
essas asas,
possa alcançar ao olho
os nervos,
veias,
cicatrizes.

mas a chaga que fica
não é o corte profundo
nem o sangue escorrendo
não são os buracos rasgados na carne
nem os ossos quebrados
expostos.

a marca que fica é
a própria asa
lembrança do vôo anterior
anúncio da decolagem futura:
coincidindo com sua chegada
possibilitando a minha partida.

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