e vale tanto investimento?
vale o salto no escuro?
valem as noites mal dormidas?
vale reabrir tua fortaleza
e reinaugurar cada galeria?
vale cantar e sentir calafrios
- o que, a essa altura, dá no mesmo -
e pedir perdão ao mundo
e desdizer o mal dito da vida?
vale provar novamente do gosto,
revisitar a infância,
lembrar-se de Auroras, Duílias
e Marias?
vale medir o estrago
e gritar as reticências,
e ouvir as melodias
aquelas, indiscerníveis melodias,
em velhas fitas k-7?
vale encarar a correnteza
sem, ao menos, saber nadar?
a morte diária vale!?
toda essa fome,
que se confunde
com a falta de apetite, vale.
ir à desforra, vale.
o risco da tentação ancestral, vale.
provocar as moiras
e segurar as flechas com o peito
e sair feito messias, à rua,
bradando "tudo vai ficar bem", vale.
dançar no silêncio vale
deixar a face à chuva vale
render-se ao quebranto vale
por-se a esperar vale
porque, no final,
tudo vale,
seja qual for o tamanho da tua alma
ou alcance de tua pena;
basta tê-las:
alma e pena...
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