quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

aquela herança telúrica...

ontem eu falava que ninguém nasce impunemente em itabira. e é algo que só fui perceber depois de me mudar. não que beagá seja o melhor lugar do mundo para se viver - embora seja. mas é que estabeleceu-se um parâmetro de comparação.

e quando você sai, começa a entender tudo o que se passa aqui nesse lugar. é aquela história da herança telúrica. e drummond se disse telúrico nesse que é um dos seus melhores poemas. telúrico somos nós, carlos. todos nós que nascemos nessa cidade de cento e tantos anos. cidade que até hoje não se sabe bendita ou maldita, e nem saberá.

Não se mate

Carlos Drummond de Andrade

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Nenhum comentário: