sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

de onde vem essa canção? - a moça e o estandarte

teve uma época, no extinto fotolog, que eu contava como criei algumas das minhas músicas. já não lembro quais apareceram por lá, mas resolvi relembrar algumas histórias. a idéia primeira era aproveitar para gravar todas as músicas novamente. farei isso com aquelas que mudaram muito, ou que não tenho mais comigo. e assim nasce mais uma série - requentada - nesse blog: "de onde vem essa canção?"

canção do dia: a moça e o estandarte

engraçado como são as coisas... no início de 2007, em março ou abril, escrevi os dois primeiros versos dessa música. e foi numa reunião de professores na escola estadual dr. josé de grizolia em itabira, onde dava aulas. a reunião, como de costume, não rendia. professores desinteressados conversam sobre tudo, menos sobre a escola. e aí, num canto da sala, uma professora jovem como eu tinha lá aquele olhar cansado, aquela preguiça, aquele desânimo com a profissão. pronto! peguei o caderno e lá vieram "essa dor é toda nossa / e é você quem não a vê".

os versos ficaram guardados no caderno por uns bons 4 meses. sempre lembrava deles, mas sem perturbá-los. aí, numa dessas brincadeiras com o violão achei uma musiquinha gostosa que precisava de um par. fui para o barracão dos fundos, na casa onde morava, aqui em itabira; meio escondido, como quem vai fazer traquinagem. e levei o tal caderno... dá-lhe tentativa e erro, dá-lhe solfejo, dá-lhe blablação... nada vinha. até que folheio o caderno e encontro os versos lá, comportados, só esperando a canção...

o resto da letra veio sem muito drama. esqueci da colega de profissão, mas a canção seguiu uma linha similar. lembro que me veio à cabeça o título de um conto do aníbal machado: "a morte da porta estandarte". puta palavra bonita essa: estandarte! e por aí a letra foi; contando essa história de quem sofre, mas vai. de quem sofre uma baita dor encarando a avenida, mas ainda assim segue sambando.

é, sem dúvidas, a música que mais gosto de tocar. a que eu acho mais bonita e a que me dá mais orgulho de ter composto. e como se não bastasse, foi a primeira música que acabou gravada por uma voz feminina (sim! imagino minhas músicas cantadas por mulheres): a da maíra, que você pode ouvir aqui, no myspace dela. para ouvir com a voz de taquara rachada deste que voz escreve, clique aí embaixo*.

essa dor é toda nossa
e é você quem não a vê
por isso, vem
toma meu braço,
que eu te levo [sã].
vem,
no meu compasso,
nosso samba é a manhã!

que não aporta e nem levanta
e sempre falha e não se alcança
e então:
eu peço algum perdão
pelo que faltou,
eu rezo uma oração
pela alma que atrasou.

e quando a calma avança
e faz de um peito: turbilhão...
canta ela
em busca de uma cor,
em troca de um sabor,
pra sobreviver,
ela vai sambando até morrer.

e quando pensa que acabou,
é que seu corpo pede mais.
e ela torna a repetir
sem deixar cair:
samba até doer o pé,
para não perder a fé
em ir...






* essa versão é de 2008, quando participei de um festival de música aqui em itabira. é um pouco diferente do modo como é cantada hoje.

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