há algumas semanas, vi uma propaganda na tv convidando ao debate sobre as drogas. mais uma dessas inúmeras propagandas que falam da importância do diálogo aberto, da conversa corajosa em família, da necessidade de um debate sério. e olha, era um propaganda longa. cerca de dois minutos em horário nobre. até aí, tudo bem.
o problema é que o convite ao debate sério começou errado: com a insinuação - pra não dizer acusação - de que toda droga é igual. ou que uma substância como a maconha é porta de entrada necessária e inevitável (a redundância é proposital) para outras drogas. mais grave ainda, se me lembro bem da propaganda, era a noção implícita de que tudo começa com o álcool. aí vem o cigarro, a ganja e a coisa vai desandando até chegar ao crack.
não dá para encarar um discurso desse com seriedade. veja bem, qualquer debate, que se proponha sério o bastante, deve, de partida, desconfiar dessa identificação leviana. e mais: no limite, a proibição - porque esse é o objetivo claro do "debate" - teria que alcançar a cerveja e o cigarro, pois, afinal de contas, eles estão no topo da cadeia causal necessária que leva à dependência química mais atroz possível.
e aqui não vai nenhuma apologia a qualquer coisa que seja, diga-se. mas embarcar num debate "sério" nos moldes que se propõe é condenar a própria discussão ao fracasso. seria interessante ouvir os dois lados, ouvir especialistas em bioquímica a respeito dos efeitos da substância 'a' ou 'b'. lembro-me de um texto introdutório sobre sofismas que dava o nome de "envenenando o poço" a uma falácia bastante comum. demoniza-se o adversário para enfraquecer-lhe o discurso. é o que, via de regra, se faz nesses casos. pena que, tão cedo, essa conversa franca ocorrerá.
Um comentário:
Pensei em dizer, antes de acabar de ler o post.
Então, é isso. Agora não tenho mais a acrescentar.
"envenenando o poço".
Um abraço, Matheus.
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