domingo, 3 de abril de 2011

sobre a arte de dizer adeus

já pelo fim da tarde, percebeu como seu dia compusera-se de pequenas despedidas. o parque, que ela ladeou por estar interditado, era diferente desde a última visita. naquela casa, que um dia sonhou sua, pertences encaixotados anunciavam vacância. 'tarde demais', ela pensou. e, de qualquer forma, nem se imaginava mais morando ali. à espera do semáforo, viu, do outro lado da rua, aquele rosto familiar. eram poucos os rostos familiares naquela cidade de três milhões de habitantes. atravessou - nunca soube do outro, a verdadeira identidade - e também sentiu que se despedia daquele rosto.

talvez, ela devesse voltar pra casa, pegar o telefone só para dizer que tudo estava bem, que tudo ficaria bem; tentando fazer da repetição, novidade. quiçá, aquele telefonema encerraria a última distância. distância que ela nunca pôde percorrer de fato - ou não quis? - mas sempre esteve lá, em cada quilômetro. ela, cada vez menos menina, desconhecia os próprios desejos e tinha muito medo de dormir porque, no sono, esquecia-se de tudo. esquecia para lembrar-se no dia seguinte, recomeçando, então, a procissão de pequenas despedidas.

não! ela estava cansada desse roda gigante... ela precisava encontrar a despedida definitiva, encontrar aquilo que a libertasse para os próximos encontros.

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