segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ana e o esquecimento


alegria maior do mundo era passar a mão na mão de vô j. só depois de adulta, ana saberia que, daquelas mãos, conhecia todas as rugas de cor.

era sempre domingo quando a mâe a levava para passear na casa de vô j.

ana não sabia quantos anos vô j. tinha, mas achava que eram muitos porque ele conhecia mais histórias que todas as pessoas no mundo que ana conhecia. e ana conhecia muita gente. só na sua sala do colégio havia mais de vinte colegas, sem falar na professora!

as histórias do vô j. eram bem simples; de coisas que ele fazia quando tinha a idade de ana... como daquela vez em que ele e seu irmão mais velho se perderam no bosque que fica no fim do bairro, quando brincavam de pique-esconde. era um bosque muito grande com árvores altas e cheias de folhas.

vô j. contou que eles ficaram sozinhos no bosque uma semana! para passar o tempo, eles ficavam contando os passarinhos e quando tinham fome, o jeito era comer borboleta, formiga ou semente de jequitibá. ana achava muito estranho que alguém pudesse comer borboleta. ela até já tinha comido formiga, quando pegou uma colher do pote de açúcar que sua mãe guardava no armário, mas foi sem querer. falaram pra ana que formiga era bom para a vista, porém ela continou vendo tudo igual.

e lá estavam vô j. e seu irmão mais velho, sozinhos na floresta - há uma semana! - quando a mãe de ana veio: "pai, o vovô já me contou essa história. você e o tio não ficaram no bosque nem duas horas!". vô j. ria a risada mais gostosa e falava que o pai dele - que deus o guardasse em bom lugar - não sabia nada de bosques.

calada, ana concordava. vê lá se o avô da mamãe era mais esperto que o vô j.? nunca.

e ana pediu para o avô contar a história de novo. e na segunda vez, o bosque virou floresta, a borboleta era um bezouro, e a semente de jequitibá virou fruta do conde...

ana riu com a confusão do avô porque ela achava engraçado como as pessoas esqueciam as próprias histórias, mas davam um jeito de contá-las de novo. nesse dia, ana foi pra casa pensando que esquecer é um jeito de fazer tudo igual de novo, só que diferente.

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