no ônibus, a leitura casual: maria clara nunes, da escola municipal maria de magalhães pinto, terminava seu poema com algo do tipo: "ah... que saudade de outros tempos". imaginando que maria clara teria, no máximo, dezesseis anos, pensei como alguém tão jovem poderia sentir essa saudade de outros tempos. não me lembro exatamente como era o poema, mas naquela saudade havia a lembrança de um tempo que para ela, maria clara, parecia mais simples; sem os aborrecimentos de agora.
ali, indo em direção a mais um golpe, fiquei pensando nessa saudade de outros tempos. é uma saudade que sente-se desde sempre. porque há um sentimento de não-pertencimento que acompanha com fidelidade canina. claro que a despedida daquela ambiente que tanto me fez bem agrava esse sentimento. mas não é apenas isso. não mesmo.
então, mais uma vez o sono vem precedido daquele mantra. no despertar, a repetição. ao longo do dia, ele vai lhe paralisando as ações, com recorrência infinita, angustiante. o dicionário lhe diz que "no tantrismo, [mantra é a] fórmula encantatória que tem o poder de materializar a divindade invocada". vai ver é isso mesmo: pensar repetidamente na saudade de outros tempos é a maneira que a gente encontra para tentar materializar o passado. e meu mantra, repetido à exaustão, é essa tentativa - vã, talvez - de imaterializar o futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário