segunda-feira, 4 de junho de 2012

manifestações do tempo


os ingressos, comprados há meses, estavam esquecidos no maleiro do guarda-roupas. como há muito tempo não ouvia a banda, não havia lá tanta expectativa quanto ao show. "ah, legal. vai rolar um show do los hermanos". a lembrança do decepcionante show de abertura para o radiohead diminuía as expectativas.

até que veio a semana anterior ao show, quando 'bloco' e 'los hermanos' tocaram bastante no mp3.

aí, foi crescendo uma vontade de ver os caras novamente, ao vivo. porque teve a recordação daquele lapa multishow insuportavelmente lotado em 2003, com a banda passando ao lado do público, indo em direção aos camarins. aquele show em que se constatava que os caras haviam mudado de patamar e precisariam migrar para o marista hall, na próxima ocasião. não é toda banda que tem absolutamente todas as músicas cantadas aos gritos e em uníssono pelo público, como ocorreu aquele dia.

mas à medida que se aproximava o show, vinha a percepção do tempo pesando às costas. porque via-se que a empolgação de muitos com relação ao show, era o retrato de quem teria a chance de ver a banda tocando pela primeira vez. e comigo era o quê? sétimo? oitavo show?

então, dei-me conta que tinha muito mais um desejo nostálgico do que propriamente uma vontade de fã. claro que seria massa ver os caras. mas o show significava muito mais o reconhecimento - tardio, talvez - de que a fase vivida ao som dos três primeiros discos fora uma fase boa. 

junto desse sentimento, lá, na hora do show, até rolou uma compaixão com aqueles jovens se acotovelando - como eu, em 2003 - pela primeira vez, porque lhes falta essa banda hoje. há muita gente boa no cenário musical, mas não com a força que o los hermanos tinha à época da minha graduação.

enfim, foram dois shows incríveis que, com a prevalência dos primeiros discos, proporcionaram a medida exata da nostalgia esperada. 

no incômodo com as milhares de câmeras e celulares (um parecia um tablet!) ligadas durante todo o show, a constatação: essa juventude não sabe o que é assistir a um show e eu estou, de fato, cada vez mais velho e ranzinza. e, ah!, sintomático o erro e/ou hesitação do público juvenil com as letras das primeiras canções; não há como guardar na memória afetiva, algo que não se viveu.

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