terça-feira, 1 de março de 2011

ana e a primeira morte


c. era o hamster que ana ganhara no aniversário de 6 anos. e ana gostava muito daquele bichinho. não entendia muito bem porque ele ficava correndo naquela roda que tinha na gaiola dele. ela o via correr e lembrava das pessoas que ficavam dando voltas no parque e nem prestavam atenção em tudo de tão bonito que havia no parque. mas no quarto de ana não tinha tanta coisa bonita. não que ela não gostasse do seu quarto, mas lá não havia casais de namorados namorando, nem pássaros, nem árvores ou lagoas. vai ver, era por isso que c. gostava tanto de correr. e quando ele corria, ficava feliz, alegrando ana.

c. comia folha de alface e um biscoito que a mãe de ana comprava no supermercado grande. um dia, escondida, ana provou do biscoito, mas cuspiu tudo fora porque ele tinha gosto de estragado. c. era pequenino, marrom, fofinho e adorava morder a mão de ana, o que lhe fazia cócegas. ele não fazia barulho algum e ana sempre achou que ele fosse mudo, coitado.

lá pelo sétimo mês em que estava na casa de ana, c. ficou doente. a mãe de ana levou c. para o médico consertá-lo, mas não adiantou muito. ele continuava triste: não corria na roda que tinha na gaiola dele, nem comia folha de alface ou biscoito com gosto de estragado. c. só queria saber de ficar deitado olhando pro chão. um dia, ana estava tentou fazer com que c. mordesse sua mão. nada. ela tentou de novo e nada. até que c. fez um barulho fininho, estridente que assustou ana.

ana correu para chamar sua mãe. c. não era mudo, afinal. ele tinha dito a primeira palavra. ana não entendeu direito o que c. disse e, talvez, sua mãe, que era a pessoa mais inteligente do mundo, soubesse falar a língua dele. quando voltaram, entretanto, c. estava ainda mais parado e com os olhos fechados. foi aí que a mãe de ana explicou que c. havia morrido e que todos os bichos, todas as pessoas, e até todas as folhas de alface morrem um dia.

foi então que ana percebeu que c. havia dado adeus a ela e achou uma baita injustiça que a primeira palavra - e também a última - de c. tenha sido 'adeus'. aí, ana chorou muito e entendeu que a morte, quando ela vem, a gente nem sabe que o outro já disse adeus.

Um comentário:

Laura disse...

Ela diiiiiisssse adeuuus.
bunito por demais =)